Síndicos, moradores, funcionários, administradoras e empresas do setor devem ter compromisso com o conceito ESG em condomínios, que se traduz em viver bem, respeitando as pessoas e o planeta.
ESG são boas práticas ambientais, sociais e de governança que estão ao alcance de todos, não somente no mundo corporativo, como são habitualmente vinculadas. Aos poucos, o conceito ESG em condomínios vem ganhando adesão do nosso mercado.
Em outras palavras, ESG significa reumanizar nossos relacionamentos com as pessoas e com a natureza, nos diversos universos que ocupamos (casa, emprego e cidade).
Ainda que as práticas ESG possam ser adotadas por qualquer pessoa ou instituição, o conceito segue muito atrelado à realidade empresarial e edifícios corporativos. Informações sempre mais complexas e frias acabam mascarando o real conceito por trás da sigla, mais humano e factível: viver bem, respeitando os meus pares e o planeta.
Desgarrada de informações técnicas e empresarias, esta matéria explica o conceito ESG, como surgiu, quais os benefícios, principais dificuldades, por conde começar, e claro, exemplos de iniciativas para você desenvolver em seu condomínio (seja síndico ou morador), administradora ou empresa de sindicatura.
O que é ESG?
ESG é uma sigla em inglês que representa três pilares: Meio Ambiente (Environmental), Social (Social) e Governança (Governance).
De maneira resumida, a agenda ESG determina as boas práticas para lidar de forma equilibrada com questões ambientais, sociais e de governança (gestão). Acredita-se que é por meio destas frentes que construiremos um futuro melhor, mais humano, respeitoso e íntegro entre as pessoas, em consonância com a natureza.
O mais relevante aqui é se desapegar um pouco da sigla ESG, sempre tão ligada a práticas de gestão empresarial, e focar no seu significado.
Até porque, é possível que você como indivíduo, dono de empresa ou administrador de condomínios já tenha adotado iniciativas socioambientais muito antes de se falar em ESG.
A sigla não é um certificado e não pertence apenas ao âmbito dos negócios, sendo, na verdade, a postura das pessoas e seu compromisso com o mundo.
Dessa forma, independente do nome que se usa, o importante é contribuir com o desenvolvimento sustentável, cuidando de cada um dos seus universos (casa, empresa ou bairro) para viver bem.
Como surgiu o conceito ESG
Em 2004, consolidava-se a ideia de que o setor privado tinha uma enorme responsabilidade pelos impactos socioambientais, devendo, assim, buscar soluções inovadoras para reduzi-los ou eliminá-los. Era necessário pensar em um desenvolvimento sustentável, no seu sentido mais amplo, além do ambiental.
Nesse contexto, o conceito ESG foi proposto, vindo especificamente de uma forte provocação de investidores.
Quando toca no bolso, as pessoas conseguem enxergar melhor isso. Analisava-se se valeria a pena investir dinheiro numa empresa ou se o risco socioambiental que ela poderia causar era muito alto.
Assim, as práticas ESG foram naturalmente se difundindo em empresas de diferentes setores, provocando outros movimentos em toda a sociedade sendo alguns deles:
Preocupação com riscos ambientais nos negócios tornou-se exigência para empréstimos;
Pressão da sociedade, sobretudo, pela agenda ambiental;
Defesa da pauta da diversidade e inclusão social;
Ressaca emocional de tanta corrupção nos setores público e privado;
Esgotamento do modelo social do capitalismo;
Novos estilos de vida.
Benefícios do ESG no mercado condominial
Os condomínios que contam com síndicos, administradoras, empresas parceiras e moradores que aplicam as práticas ESG têm o poder de melhorar as cidades e a vida das pessoas.
Como o mercado condominial pode se preparar para aplicar as práticas ESG
Além de ser uma postura de cada indivíduo, o conceito ESG é aplicável a qualquer tipo de empresa (pequena, média e de grande porte), independente do ramo. O que muda na hora de adotar essas práticas é a complexidade, que vai variar conforme as prioridades, os impactos e os recursos disponíveis no seu negócio.
O impacto socioambiental de uma administradora é diferente de um condomínio, assim como se comparado a um prédio comercial, salão de beleza ou empresa siderúrgica. As atividades, espaços físicos e stakeholders (partes interessadas) são distintas, logo, as práticas em termos de sustentabilidade, social e governança também.
Como são inúmeras iniciativas que envolvem o ESG, é impossível adotar tudo ao mesmo tempo. É preciso, então, dar pequenos passos, que se iniciam com práticas básicas, que evoluem para as intermediárias até alcançarem as avançadas.
A dica é iniciar o processo internamente, dentro de casa, ou em maior escala, na sua vizinhança ou ambiente de trabalho. Naturalmente, elas vão contagiando positivamente as pessoas e os espaços.
Pensando em mercado condominial, o ideal é aplicar o ESG em todos os lugares, seja condomínio, administradora ou empresa de sindicatura. Tudo tem que estar embaixo do mesmo guarda-chuva.
No caso de administradoras e empresas de sindicatura ou áreas correspondentes, sugiro adotar o ESG no seu negócio antes de jogar para fora, nos condomínios. Flui melhor dessa forma, pois passa mais credibilidade, você ganha confiança e torna-se mais assertivo ainda.
Da mesma forma, nenhuma das frentes (Ambiental, Social e Governança) deve ser vista isoladamente ou considerada mais importante que a outra.
Nesse sentido, a implementação de práticas ESG é um processo contínuo e lento tal como a criação de uma nova cultura.
Principais dificuldades de implementar práticas ESG em condomínios
A primeira grande dificuldade de implementar práticas ESG nos condomínios é o fato de os moradores dedicarem seus esforços em assuntos de interesse financeiro, como custos, contas, redução de despesas, corrupção, alta inadimplência, etc.
Isso nos leva à segunda maior dificuldade em colocar em prática o ESG em condomínios: preocupados com o bolso, os moradores não conseguem enxergar valor em questões de cunho social e ambiental.
Para lidar com isso, é importante que o síndico saiba “vender o peixe”, enfatizando aos moradores os benefícios que o ESG traz diretamente à vida deles.
Se possível, de maneira prática e atrelada a pequenas economias, para chamar a atenção. “Com as medidas de economia x, y e z, reduzimos a conta de luz das áreas comuns em R$ xxxx. Ao longo de 1 ano, a economia será de R$ xxxxxx”, por exemplo.
Bem verdade que há muitos ganhos subjetivos das práticas ESG em condomínio que são difíceis de mensurar em números, você não vê, porém, sente a transformação, sobretudo no convívio mais agradável e maior senso de coletividade.
Exemplos de práticas ESG em condomínios, empresas de sindicatura e administradoras
A listagem abaixo sugere algumas ações ESG básicas, intermediárias e avançadas, que podem ser incorporadas a qualquer empresa, condomínio e para o dia a dia de cada pessoa.
Pilar E (Environmental) | Ambiental – Gestão dos recursos naturais
São as práticas de prevenção ao meio ambiente.
Iniciativas básicas/intermediárias
Coleta seletiva/ reciclagem do lixo
Campanhas internas de consumo consciente de água e luz
Criar mais áreas verdes, plantando espécies nativas
Conscientização para separação de recicláveis e não-recicláveis
Incentivo ao carro compartilhado
Estímulo ao uso de bicicletas
Adotar processos que dispensem o papel (pasta de prestação de contas e boleto digitais, comunicados online, etc.)
Troca de utensílios descartáveis para os laváveis
Inspeções contra vazamentos
Reduzir iluminação em escada de emergência
Readequação da iluminação na garagem
Lâmpadas LED
Equipamentos que consumam menos energia (eletrônicos com Selo Procel, eletrodomésticos mais modernos, etc)
Descarte de óleo
Compostagem
Descarte de pilhas
Entre outras.
Iniciativas avançadas
Adoção de energia solar (placas fotovoltaicas)
Reuso de água pluvial para reutilização em áreas comuns (regar jardim, lavar piso da garagem, etc)
Carros elétricos
Poços artesianos
Individualização de água
Equipamentos que reduzem o consumo de água (válvulas hidráulicas antiar, redutores de pressão, vasos sanitários e torneiras mais modernos, eliminadores de ar, etc.)
Telhados verdes e jardins verticais
Modernização de elevadores (equipamentos antigos gastam muito mais energia)
Entre outras.
Para administradoras e empresas de sindicatura, especificamente: Importante a sede respirar sustentabilidade, adotando as medidas elencadas acima, e se estiver situada em uma edificação, escolha aquela que siga esses parâmetros.
Pilar S | Social – Gestão dos stakeholders
Essa frente do ESG foca nas pessoas a partir do lugar em que elas ocupam, portanto, podendo ser clientes, prestadores de serviço, funcionários e comunidade do entorno.
Abrange ações de respeito aos Direitos Humanos, à saúde física e emocional, bem-estar e segurança, à diversidade (social, econômica, idade, sexual, étnico-racial, gênero, credo, etc) e à inclusão social, bem como a promoção de interações sociais em prol do convívio harmonioso.
Muitas medidas recaem nas relações trabalhistas, com comprometimento ao desenvolvimento e treinamento do empregado, atração e retenção de talentos.
Iniciativas básicas/intermediárias
Campanhas beneficentes (doação de sangue, arrecadação de alimentos ou roupas, etc)
Eventos no geral, como:
Datas comemorativas (festa junina, Natal, Carnaval, etc.)
Campeonatos esportivos ou atividades físicas, como yoga, massagem, aula de dança, etc.
Festivais de música
Feiras com produtos produzidos pelos próprios envolvidos (alimentos, livros, etc.)
Semana da Saúde com apoio de empresa parceira, oferecendo serviços como medição da pressão, palestras incentivando cuidados e até campanhas de vacinação etc.
Horta comunitária
Assembleia infantil
Pesquisa de clima
Canal de comunicação direta para sugestões, reclamações e denúncias
Oportunidade e empoderamento da mulher
Oportunidade e empoderamento de pessoas negras, deficientes, LGBTQIA+ e periféricas.
Acolhimento e ajuda na recuperação de colaboradores dependentes químicos, jovens em idade escolar, analfabetos funcionais ou que tenham filhos portadores de necessidades especiais
Ações simples de reconhecimento para funcionários, como caixinhas de Natal e café da manhã
Valorização dos colaboradores (carga horária adequada, salário justo, espaços de trabalho e EPI’s apropriados, etc).
Financiamento de cursos e treinamentos de aprimoramento profissional
Do ponto de vista empregador, entendemos que é importante fazer um processo de recuperação das pessoas.
Em relação a prestadores de serviço deve-se certificar de que a empresa está respeitando os direitos humanos e trabalhistas dos seus funcionários, impedindo, principalmente, o trabalho análogo ao escravo ou infantil.
Além disso, vale verificar como essas empresas lidam com as comunidades do entorno, se estão envolvidas com problemas de governança, como corrupção e lavagem de dinheiro, e se causam danos ou crimes contra o meio ambiente durante seus processos produtivos.
Pilar G (Governance) | Governança – Gestão do negócio
São as boas práticas em administrar uma empresa ou condomínio. Engloba, assim, valores ligados à ética, integridade, liderança e transparência, tais como:
Política de Compliance;
Condutas anticorrupção e combate a conflitos de interesses;
Relatórios, códigos de ética e conduta;
Respeito à privacidade e diversidade;
Prestação de contas feita corretamente;
Processos de licitação (compras, cotações) transparentes;
Comitês de riscos e segurança, como LGPD, ou propriamente os grupos especializados em aplicar ESG;
Associação a entidades do setor imobiliário, como Secovi, AABIC, Abadi, ABMI (Associação Brasileira do Mercado Imobiliário) etc;
Plano de cargos e salários para funcionários;
Parcerias de cunho social;
Entre outras.
Governança é saber administrar os recursos disponíveis, entender seu papel na organização e na comunidade, exercer um papel de liderança, cumprir com obrigações legais, delegar responsabilidades, etc.
Em resumo, é a forma como é feita a gestão do negócio, sempre sob a ótica da ética, integridade e transparência.
Na administradora ou empresa de sindicatura, por exemplo, são os donos e sócios que encabeçam a governança.
Já nos condomínios, ela é exercida pelo síndico, que foi escolhido pela comunidade para representá-la. No entanto, isso em nada tira a responsabilidade dos demais indivíduos, como conselho e moradores. O síndico tem que obedecer a um conjunto de responsabilidades, inclusive legais, como prestação de contas, e zelar pela segurança dos usuários, mas discutir governança é falar em corresponsabilidade.
Para administradoras e empresas de sindicatura, especificamente: Parcerias genuínas com entidades filantrópicas colaboram para a causa em si e também agregam valor à imagem da sua companhia.